Tiago, irmão do Senhor.
Tiago, irmão do Senhor.

Mais evidências do terceiro Tiago

 

Sim, é o terceiro Tiago de novo. Já escrevi sobre ele neste e neste artigo, e mais recentemente em minha refutação ao inquisidor medieval que vive em nossos dias, também conhecido como Cristiano Macabeus (ou “Cris”, para os mais íntimos), no artigo: "As aberrações de Cristiano Macabeus e a volta do terceiro Tiago". Naquele artigo eu abordei somente os argumentos bíblicos para a existência do terceiro Tiago, refutando a pseudo-exegese pobre e infantil do macabeu, mas neste eu abordarei também provas históricas (extra-bíblicas) da existência deste Tiago, que não era nenhum dos dois discípulos de Jesus, muito menos um anepsios (primo), e sim um adelphos (irmão).

Começaremos com Flávio Josefo, um historiador judeu do século I que é idolatrado por Macabeus, que o cita em seu site mais do que a Bíblia. Se Macabeus fosse papa, Josefo seria santo. Pois bem. Nomesmo livro em que Josefo cita Jesus, e que é usado pelos historiadores como a prova mais cabal da existência histórica de Cristo, ele também fala de Tiago, como seu irmão:

“Mas o jovem Anano, que, como já dissemos, assumia a função de sumo-sacerdote, era uma pessoa de grande coragem e excepcional ousadia; era seguidor do partido dos saduceus, os quais, como já demonstramos, eram rígidos no julgamento de todos os judeus. Com esse temperamento, Anano concluiu que o momento lhe oferecia uma boa oportunidade, pois Festo havia morrido, e Albino ainda estava a caminho. Assim, reuniu um conselho de juízes, perante o qual trouxe Tiago, irmão de Jesus chamado Cristo, junto com alguns outros, e, tendo-os acusado de infração à lei, entregou-os para serem apedrejados”[1]

Observe que Josefo chama Tiago de irmão de Jesus, e não de primo de Jesus. Antes que os apologistas católicos disparem a pérola do hebraico, dizendo que “no hebraico não tinha distinção entre irmão e primo, era tudo a mesma coisa, e blá blá blá”, cabe notar que Josefo escrevia em grego[2], idioma que tinha perfeita distinção entre irmão e primo, tanto quanto o português. É digno de nota que Josefo, neste mesmo livro, nunca hesitou em escrever a palavra “primo” quando de fato alguém era primo – e não irmão – de outra pessoa.

Vejamos alguns exemplos tirados da mesma obra em que Josefo chama Tiago de irmão de Jesus:

“Orfa consentiu naquele desejo, mas a extrema afeição que Rute devotava à sogra não lhe permitiu abandoná-la e desejou ser sua companheira também na adversidade. Assim, chegaram ambas a Belém, onde veremos em seguida que Boaz, primo de Abimeleque, as recebeu com grande bondade”[3]

Note que Josefo não diz que Boaz era “irmão” de Abimeleque, mas que era primo (anepsios). Ele sempre fazia toda a questão de ressaltar quando alguém era primo, e nunca chamou um primo de “irmão”. A mesma coisa ele faz quando chama Jonadabe de primo de Amnom, ao invés de chamar simplesmente de “irmão”:

“Amnom, seu filho mais velho, apaixonou-se tão perdidamente por ela que, não podendo satisfazer a sua paixão, porque ela era cuidadosamente vigiada, ficou em tal estado que se tornou irreconhecível. Jonadabe, seu primo e amigo particular, julgou que aquela enfermidade só podia vir de uma causa semelhante e rogou-lhe que dissesse qual era. Amnom revelou o amor que sentia pela irmã, e Jonadabe, que era um homem inteligente, deu-lhe um conselho, o qual ele pôs em prática”[4]

Ele também faz questão de chamar Grapta de primo de Izate, ao invés de dizer que era “irmão” dele:

“Travou-se um combate, mataram a muitos dos dele, impeliram-no até quase o palácio, construído por Grapta, primo de Izate, rei dos adiabenianos, que João havia escolhido para sua residência e onde ele guardava todo seu dinheiro, como produto dos roubos e saques, que eram efeito de sua tirania; entraram lá com ele e o obrigaram a se retirar ao Templo”[5]

E também Caio em relação a Macrom e a Tibério:

“Tudo, porém, Macrom fez para dissipar essas dúvidas e suspeitas e particular-mente o temor que ele tinha pelo neto; ele afirmava-lhe que Caio tinha por ele grande respeito, muito afeto como primo, e que lhe cederia de boa vontade o império; que só se devia atribuir ao pudor e ao seu retraimento o que todos julgavam espírito fraco”[6]

“Ações tão criminosas, na mente de Caio, eram como outras tantas vitórias que ele obtivera sobre o que havia de mais ilustre no império. Seu furor tinha sufocado o brilho da família imperial no sangue do jovem Tibério, seu primo, que ele devia, ao invés, ter associado ao soberano poder”[7]

O mais interessante, contudo, fica por conta de quando Josefo cita anepsios (primo) e adelphos(irmão) numa mesma passagem, fazendo clara distinção entre ambos. Ele diz:

“Eis como Caio procedeu para executar uma resolução tão detestável contra aquele, com o qual a justiça obrigava a dividir a suprema autoridade. Mandou vir o jovem Tibério, reuniu seus amigos e disse-lhes falando dele: ‘Eu não o amo somente como meu primo, mas como se ele fosse meu próprio irmão, e desejaria, de todo meu coração, poder agora associá-lo ao governo, para satisfazer à última vontade de Tibério, mas vedes que, sendo tão jovem, ele tem mais necessidade de governante do que de ser governador”[8]

Em uma das passagens mais interessantes, Josefo nomeia todos os familiares, fazendo nítida distinção de cada um deles:

“Mas eu quisera bem saber de quem ele teria podido aprender o que diz; eu fui instruído desde o berço por meu pai, meus irmãos, meus primos, meus avós, meus bisavós e tantos outros grandes príncipes, de quem sou descendente dos lados paterno e materno, sem falar das sementes de virtude que a mesma natureza introduz no sangue daqueles que ela destina a governa”[9]

Josefo distinguia claramente irmão de primo, assim como distinguia com clareza as outras relações de parentesco. Mesmo sendo assim tão claro, ele faz questão de chamar Tiago de irmão de Jesus, e não de primo! Será que Josefo não tinha a mínima ideia de quem era Tiago e somente “chutou” que era um irmão? É claro que não. A verdade é que este Tiago era bem conhecido na época, pois se tornou um dos principais líderes do Cristianismo primitivo, como Lucas confirma ao mencioná-lo como o líder do Concílio de Jerusalém em Atos 15.

Josefo não apenas sabia muito bem quem era Tiago, como até chegou a descrever a sua morte por apedrejamento. Josefo era um historiador por excelência. Ele descreveu milhares de fatos e personagens da época com precisão. Os católicos querem nos convencer, realmente, que Josefo, o mesmo que acertou na descrição de todos os outros graus de parentesco em todo o seu livro, errou pateticamente na descrição de Tiago, em particular. E pior: que seu “erro” é, “coincidentemente”, exatamente o mesmo que os protestantes afirmam há séculos usando a Bíblia! Isso é muita coincidência, muitos erros ou muita ignorância e ingenuidade da parte dos pseudos-apologistas católicos.

Em resumo, podemos elencar que:

• Josefo, exímio historiador, conhecia Tiago muito bem. Não apenas porque ele era um excelente historiador, mas porque Tiago era muito conhecido, contemporâneo de Josefo, inclusive, e judeu como ele.

• Josefo escrevia em grego, e tinha pronto, a mão, e perfeitamente disponível as palavras adelphos(irmão) e anepesios (primo), assim como o português, que também tem clara distinção entre ambos.

• Josefo não apenas tinha disponível essas palavras, mas de fato as usava apropriadamente, citandoadelphos (irmão) quando era irmão, e anepsios (primo) quando era primo. Ele nunca citou um primo como “irmão” e nunca citou um irmão como “primo”. Ele cuidadosamente distinguia claramente um do outro.

• Este mesmo Flávio Josefo escreveu dizendo que Tiago era irmão (adelphos) de Jesus, e não “primo” (anepsios) dele. Os católicos são forçados a sustentar inutilmente, e contra todas as evidências, que Josefo errou aqui, embora tenha acertado em todos os outros textos. Na verdade, o que eles fazem é negar o óbvio, pois não podem simplesmente aceitar a verdade como tal como ela é, já que já estão presos a um sistema papal repleto de pressupostos, sendo proibidos de pensar por si mesmos, tendo apenas que repetir e concordar com o papa. Então, enquanto os evangélicos estão livres para pensar por si mesmos e chegar à conclusão natural de que Josefo escreveu este texto consciente, os católicos estão presos a um sistema papal em que se veem obrigados a negar qualquer evidência, para sustentar uma mentira.

E esta não é a única evidência externa de que Tiago era mesmo irmão de Jesus. Temos, além da prova histórica, uma evidência arqueológica, que se trata do ossuário de Tiago, datado do século I, que traz a inscrição em aramaico: “Tiago, filho de José, irmão de Jesus” (Ya'akov bar Yosef achui d'Yeshua). O ossuário foi comprado há muito tempo por um colecionador judeu que nem suspeitava da importância daquele artefato. Mas quando, em abril de 2002, o renomado estudioso francês André Lemaire o viu em uma urna, escrito na língua falada por Jesus, logo descobriu a sua importância.

 

 

 

Esse valioso achado arqueológico foi logo desacreditado pelos ateus, que alegaram falsificação. Por isso, ele foi submetido a testes pelo Geological Survey of State of Israel e, depois de muita investigação, foi declarado autêntico. De acordo com o The New York Times, “essa descoberta pode muito bem ser o mais antigo artefato relacionado à existência de Jesus”. Submetido a análises de datação histórica, foi constatado que ele remetia a aproximadamente 63 d.C, que, curiosamente, é exatamente a época em que o irmão de Jesus foi martirizado, de acordo com a tradição cristã!

O julgamento definitivo, que foi feito em 2012, provou a autenticidade do ossuário do irmão de Jesus. A matéria da revista norte-americana Biblical Archeological Review abordou o caso nas seguintes palavras[10]:

«Depois de um julgamento de mais de cinco anos com 138 testemunhas, mais de 400 exposições e uma transcrição do julgamento de 12.000 páginas, o Juiz Aharon Farkash do Tribunal Distrital de Jerusalém inocentou os réus de todas as acusações de falsificação. Sua opinião no caso, proferido em 14 de Março, tem 474 páginas. Os acusados Oded Golan e Robert Deutsch foram inocentados de todas as acusações de falsificação.

Dos cinco réus indiciados originalmente em 2004, apenas dois permaneceram no caso: Oded Golan, um colecionador de antiguidades com uma das coleções mais importantes em Israel (ele foi considerado culpado da acusação menor de negociação de antiguidades sem licença); e Robert Deutsch, o mais proeminente negociante de antiguidades, em Israel, que também ensinou na Universidade de Haifa, serviu como supervisor em escavação arqueológica de Megiddo e é autor de livros acadêmicos, sozinho e com outros estudiosos de renome internacional.

O mais famoso dos objetos acusados de serem falsificações é uma inscrição em um Ossuário ou caixa de ossos em que se lê: “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Ele recebeu sua primeira publicação na revista Biblical Archeological Review (Revista de Arqueologia Bíblica) em 21 de outubro de 2002. No dia seguinte, ele estava na primeira página de quase todos os jornais do mundo, incluindo o New York Times e Washington Post.

Análises Paleográficas e a existência de antiga pátina sugeriram que a inscrição é autêntica. A primeira parada em qualquer investigação sobre esta questão seria na porta dos paleógrafos – estudiosos que podem datar e autenticar as inscrições de certos períodos históricos específicos com base no estilo e na posição das letras. Neste caso, a inscrição foi autenticada por duas das maiores autoridades mundiais em Paleografia da atualidade, Andre Lemaire da Sorbonne e Ada Yardeni da Universidade Hebraica de Jerusalém.

O que é ainda mais significativo é que nenhum paleógrafo de qualquer reputação mesmo sugeriu que esta inscrição pode ser uma falsificação. Não há nenhum “outro lado da questão”, falando em termos de Paleografia.

Há outras razões, mais simples, para se crer que a inscrição não é uma falsificação. Oded Golan possuía o Ossuário de Tiago desde a década de 1970. Ele provou isso com fotografias antigas autenticadas por um ex-agente do FBI nas quais é usado um tipo de papel que não é mais usado em uma data posterior. E Golan nunca tentou vender o ossuário ou divulgar a inscrição. Ele afirma veementemente que nem sabia que o Novo Testamento menciona Tiago como o irmão de Jesus, ou como ele disse, “eu nunca soube que Deus poderia ter um irmão”. Ainda mais compreensivelmente, ele não tinha ideia que o nome Ya’acov (como está escrito no ossuário) e Jacob (para qualquer israelita) foi traduzido como “James” no Novo Testamento em Inglês.

A imprensa mundial não deu atenção ao veredicto deste caso. Desde o dia 14 de março último, quase nada foi noticiado pelos canais de televisão internacionais ou nacionais, ou nos jornais ou revistas (com exceção da BAR)»

A razão pela qual quase não houve notícias da mídia a este respeito é porque a mídia é predominantemente humanista secular, que dá espaço a qualquer boato ridículo de terem encontrado o “túmulo de Jesus” (algo que nunca foi provado em julgamento nenhum, e não passa de boatos criados por secularistas), mas omite vergonhosamente algo que favorece a historicidade de Cristo e que foi provado verdadeiro em julgamento. Mais do que uma evidência da existência histórica de Jesus (da qual o leitor pode conferir outras evidências clicando aqui), esta também é uma clara evidência de que Jesus tinha um irmão chamado Tiago.

Esta evidência também anula as possibilidades de Tiago ter sido apenas “primo” de Jesus, porque nos ossuários judaicos constava, no máximo, apenas o nome do pai e de quem era irmãonunca constava o primo. Ao dizer, portanto, que Tiago era “filho de José e irmão de Jesus”, estava relatando que de fato Jesus tinha um irmão chamado Tiago.

A historinha de que Tiago era um “primo” de Jesus é uma invenção criada pelos papistas para sustentar o dogma falido da virgindade perpétua de Maria, que é crido por pura fé no papa, e não por argumentos. Embora esse tipo de fé cega seja rechaçado pelas mentes inteligentes, é perpetuado por mentes pobres do tempo dos macabeus, que pensam que a palavra do papa tem mais peso que as evidências racionais. Uma lástima.

 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,

Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

 

Texto extraído do site Heresias católicas.