Jesus tinha irmãos ou primos?
Este assunto, é o mais comentado entre católicos e evangélicos, pois, toca profundamente em um dogma da Igreja Romana, que é a Virgindade Perpétua de Maria. Esse dogma é defendido com unhas e dentes pelos católicos, e dá muito, mas muito, o que falar se alguém disser o contrário.
Para falar sobre esse assunto –que é muito vasto- é necessário muito estudo das Sagradas Escrituras e muita atenção por parte do estudante, mas sem deixar do primordial para um verdadeiro cristão, que é a presença do Espírito Santo, que nos auxilia em tudo.
Poderia ser dito aqui neste artigo, sobre o significado das palavras gregas adélphos (irmão) e anépsios (primos), parente (sungenes) e suas corretas colocações. Recomendo ao leitor deste artigo a ver esse assunto aqui e sobre o terceiro Tiago, aqui. Mas o que será abordado, neste artigo é algo muito interessante e tenho certeza de que quem ler –até mesmo um católico- verá que faz sentido e é muito mais simples de se entender que Jesus tinha realmente irmãos e que Maria, nunca foi virgem perpétua.
A explicação.
Antes de chegar a Nazaré, de onde veio José, Maria, sendo Jesus uma criança?
Eles viram do Egito. O anjo do Senhor aparece a José em sonhos, dizendo para ele ir com Maria e o menino para o Egito, pois, Herodes procurava matar o menino. (Mateus 2. 13-14)
José, então se levantou e tomou o menino, e sua mãe, de noite e foram para o Egito. E lá ficaram, até à morte de Herodes, justamente para se cumprir o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta¹, que diz: Do Egito chamei meu Filho. (Mateus 2.14-15)
1- Este profeta era Oséias (Oséias 11.1)
Eles fugiram para lá, porque Herodes mandou matar todas as crianças até dois anos de idade em Jerusalém, pois havia sido iludido pelos reis magos, e irritou-se muito. (Mateus 2.16)
Mais a frente, em Mateus 2.23, José, Maria e o menino Jesus foram morar em Nazaré, justamente para se cumprir o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno. José e Maria, junto com Jesus, começaram suas vidas nesta cidade, trabalhavam, andavam, conversavam, tinham vizinhos e amigos, e eram tratados como pessoas comuns em Nazaré.
Interessante notar –quem já leu a Bíblia- que José e Maria, nunca falaram a ninguém de Nazaré, a respeito de como Jesus, havia sido concebido, já que o anjo Gabriel apareceu a Maria, e lhe anunciando que o Santo que dela iria nascer, seria chamado Filho de Deus (Lucas 1.35). José também sabia disso, porque, o anjo lhe apareceu em sonho para dizer que “o que nela seria gerado, era do Espírito Santo”. Veja que isso foi algo honrado, lindo e abençoado que Deus lhes deu de serem pais do Filho de Deus, o Salvador. (Lucas 2.11).
Eles bem poderiam ter dito algo, mas não há relatos nas Escrituras Sagradas, deles terem comentado algo sobre Jesus. A vida dos três era completamente normal aos olhos do povo de Nazaré, e que Jesus era filho nascido naturalmente, fruto do casamento de Maria e José.
Vale ressaltar que em Mateus 1.25, diz que José não a conheceu, enquanto ela não deu a luz um menino... e este “não a conheceu”, quer dizer, que não teve relações sexuais com Maria. O mesmo é usado por Maria, para referir-se ao anjo Gabriel de que “Como pode ser isto, pois, não tenho relação com homem nenhum?” (Lucas 1.34)
Agora, trata-se de apenas prestarmos atenção nos textos citados, analisá-los, e chegaremos a conclusão de que se estava falando de relação sexual entre homem e mulher. A Bíblia de Jerusalém, que é católica, diz o seguinte na sua nota de roda pé: “A “virgem” Maria é apenas noiva e não tem relações conjugais (sentido semítico de “conhecer” cf. Gn 4.1). Esse fato, que parece opor-se ao anúncio dos vv 31-33, induz à explicação do v. 35. Nada no texto impõe a ideia de um voto de virgindade.
Maria, se referia a isso ao anjo, de nunca ter relações sexuais com nenhum homem. Até porque ela estava prometida a José, e se ela o tivesse traído, ela seria apedrejada, pois cometeria adultério, e lei de Moisés dizia que: Se um homem adulterar, com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera, (Levítico 20.10)
Imaginem o escândalo e vergonha que seria para Maria, pois, o anjo lhe anunciou que ficaria grávida antes do casamento, e José nem a conheceu – teve relações conjugais com Maria – para ela ficar grávida. Para que, Maria não fosse infamada, José resolveu deixá-la secretamente (Mateus 1.19). Provavelmente, José pensou na lei de Moisés, sobre o adultério, e quis fugir para que a responsabilidade caísse sobre ele, e o povo pensasse que ele a forçou a ter relações antes de casar, pois, temia o pior para a sua amada Maria.
Agora, em Mateus 4.13, Jesus, depois de ter passado 40 dias e quarenta noites, no deserto sendo tentado por Satanás, deixou Nazaré, e foi para Cafarnaum (Mateus 4.13) e depois disso ele começou a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. (Mateus 4.17)
Do capítulo 4 até 12 de Mateus, Jesus foi pregando o Reino de Deus em Cafarnaum e cidades vizinhas. Depois de ter pregado, retirou-se dali(Mateus 12.53), e chegou a sua terra, ensinando nas sinagogas. (Mateus 13.54)
Aqui, chegamos ao ponto que é o assunto desse artigo, que trata se Jesus tinha irmãos ou primos (Mateus 13.55-58).
Se analisarmos superficial ou profundamente o Novo Testamento, e em especial os Evangelhos, veremos claramente e sem sombra de dúvidas que Jesus tinha irmãos (filhos do mesmo pai e da mesma mãe) e não primos.
Os escritores dos evangelhos, inspirados pelo Espírito Santo, nos fornecem até seus nomes: Tiago, José, Simão e Judas. E eles também nos passam a real impressão de que queriam nos transmitir um quadro de uma família composta por pai, mãe e filhos, já que, essas pessoas aparecem sempre relacionadas a Maria, mãe de Jesus. E a passagem de Mateus 13.54-58 deixa bem claro que Jesus tinha irmãos e irmãs.
E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam, e diziam: De onde veio a este tanta sabedoria, e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?
E não estão entre nós todas as suas irmãs? De onde lhe veio, pois, tudo isto?
(Mateus 13:55-56)
Pensem um pouco. Jesus estava pregando em Nazaré, cidade a qual ele morava desde bebê com José e Maria. O povo de Nazaré o tinha como uma pessoa comum, pois não sabiam que sua concepção foi pelo Espírito Santo. Na concepção do povo de Nazaré, Jesus era apenas o filho do carpinteiro José e de Maria, e que tinha irmãos e irmãs. Isso é provado pelo versículo 57 que diz:
E escandalizavam-se nele. (Mateus 13.57)
Se eles escandalizavam-se era porque, ele era um simples homem aos seus olhos e não entendiam como que ele era tão sábio por ser apenas um homem comum, pois perguntavam: De onde veio a este tanta sabedoria, e estas maravilhas? (Mateus 13.54)
É impossível não perceber esses detalhes para quem já está bem habituado com as Escrituras Sagradas, e sempre busca analisá-las para compreender os textos bíblicos.
A Bíblia deixa bem claro quando a palavra “irmão” aparece junto aos termos “pai” e “mãe”, denota filiação legítima (ou seja, de sangue), e isto ninguém consegue eclipsar.
Compare:
Não é este o filho do carpinteiro? e não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas? (Mateus 13.55)
Nas ocorrências que o termo “irmão” em relação a Jesus, seu sentido é “irmãos legítimos”
Alguns podem objetar dizendo que a palavra hebraica ah (irmão) aparece várias vezes não como significando irmãos de sangue, mas primos. Não se pode negar isso, pois é verdade também porque a língua hebraica tinha um vocabulário pobre e, por isso, não possuía um termo específico para primos ou parentes, por isso as pessoas usavam o vocábulo “irmão” de modo lato.
Só que este artifício não é o suficiente para que os católicos se esquivem do deslize teológico. A palavra “irmão”, no hebraico pode significar primo, mas é imprescindível tomarmos muito cuidado. O contexto é o fator que vai determinar o grau de parentesco quando o termo é usado para parentes próximo, e esclarecerá a questão.
Além de tudo isso, o Novo Testamento foi todo escrito em grego e não em hebraico. Será que no grego coiné, existia esta distinção, praticamente ausente no hebraico?
Os escritores do Novo Testamento conheciam a diferença entre os termos irmãos (adelphós) e primos (anépsios) e parentes (sungenes). Paulo costumava usar bastante metáfora, sabia a diferença dessas palavras. Tanto é que escreveu – inspirado pelo Espírito Santo, que não erra – sobre os irmãos de Jesus sem ter nenhuma dúvida sobre o laço carnal entre o Senhor e seus irmãos.
Não temos nós direito de levar conosco uma esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas? (1 Coríntios 9:5)
E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor. (Gálatas 1:19)
Paulo usou essas palavras de forma seletiva e correta em suas epístolas. Não existe motivo pra confusão:
Saudai a Herodião, meu parente. Saudai aos da família de Narciso, os que estão no Senhor. (Romanos 16:11)
Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o. (Colossenses 4:10)
Se a tese católica estivesse correta, o apóstolo poderia muito bem ter usado a expressão hoi anepsiós Kyriou (primos do Senhor) e não hoi adelphói tou Kyriou (irmãos do Senhor). Até porque os irmãos de Jesus estavam vivos quando Paulo escreveu as duas epístolas supracitadas.
E mais.
Essas palavras trazem suas distinções e significados corretos em suas colocações, e não dá para aceitar – muito menos a língua grega – que irmãos (adelphós) seja primo (anépsios). Não tem como mudar o real significado dessas palavras quando colocadas no contexto em que se encontram acerca dos irmãos de Jesus.
Veja Mateus 12.46-47
E, falando ele ainda à multidão, eis que estavam fora sua mãe e seus irmãos, pretendendo falar-lhe.
E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te.
(Mateus 12:46-47)
Marcos 3.31-32
Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando fora, mandaram-no chamar.
E a multidão estava assentada ao redor dele, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos te procuram, e estão lá fora. (Marcos 3:31-32)
João 2.12
Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias. (João 2:12)
João 7.3-5
Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.
Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
Porque nem mesmo seus irmãos criam nele. (João 7:3-5)
Em todas essas passagens os ''irmãos" tem significado de irmão legítimo (de sangue). Importante notar também, a passagem de João 2.12 e João 7.3, que mostra claramente que existiam dois grupos diferentes, os irmãos e os discípulos. Cito isto, pois já ouvi dizer que os irmãos de Jesus citados nas passagens, eram seus discípulos, no caso os apóstolos.
Algo que acaba de vez com esse disparate de dizer que Maria é imaculda e sempre Virgem, e é de suma importância para nós cristãos, é que o Espírito Santo de Deus jamais se engana e erra. Jamais o Espírito Santo inspiraria os apóstolos a escreverem o significado errado das palavras, mas sim, o correto. O Espírito Santo é Onisciente, conhece passado, presente e futuro. E sendo assim, jamais erraria em qualquer ponto das Escrituras Sagradas.
Cai a Farsa Romanista
Por: Willian Furtado
18/10/2014