O terceiro Tiago, o irmão de Jesus
Os católicos alegam que o irmão de Jesus chamado Tiago é, na verdade, um primo dele, que também era seu discípulo, e se trata do “Tiago menor” (Mc.15:14), filho de Maria, irmã da mãe de Jesus. A argumentação deles acerca disso pode ser vista neste vídeo do padre Paulo Ricardo (sim, é aquele mesmo que chamou os evangélicos de “otários”, veja aqui). Como vocês podem ver no vídeo do padre, toda a argumentação dele possui uma base, que se sustenta em Gálatas 1:19, que diz:
“E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Gálatas 1:19)
Neste texto Paulo deixa bem claro que Tiago não era primo (anepsios) de Jesus, mas irmão(adelphos) dele. No grego bíblico existia distinção entre irmão e primo, e Paulo (que escrevia no grego) disse que Tiago era adelphos (=irmão) de Jesus, e não anepsios (=primo) dele, como ele faz quando se refere a “Marcos, primo [anepsios] de Barnabé” (Cl.4:10). Portanto, esta é uma prova óbvia e evidente de que Tiago era mesmo irmão de Jesus, e não primo.
Mas não para o padre Paulo Ricardo.
Ele argumenta:
“Nós sabemos que esse Tiago, que está nomeado como ‘irmão do Senhor’, é um apóstolo. Mas se nós formos à lista dos doze apóstolos, quem são os ‘Tiagos’?”
Essa é toda a base argumentativa dele que sustenta todo o restante da sua argumentação, totalmente embasada na tese de que não existiam outros apóstolos além dos doze, razão pela qual ele crê que esse Tiago tinha que ser um dos doze discípulos de Jesus. De fato, se não existiam outros apóstolos além dos doze, então realmente esse Tiago teria que ser um deles, como diz o padre. Mas será mesmo que não existiam apóstolos além dos doze? Vejamos:
“Ouvindo, porém, isto os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgaram as suas vestes, e saltaram para o meio da multidão, clamando” (Atos 14:14)
Aqui vemos que Paulo e Barnabé eram apóstolos, embora nenhum deles estava entre os doze discípulos! Outros que também são chamados de apóstolos sem estarem entre os doze são Andrônico e Júnias:
“Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e meus companheiros na prisão, os quais se distinguiram entre os apóstolos e que foram antes de mim em Cristo” (Romanos 16:7)
Portanto, a conclusão lógica a que chegamos é que existiam apóstolos além dos doze discípulos. E, portanto, não há qualquer necessidade de esse Tiago mencionado em Gálatas 1:19 ter sido um dos dois discípulos de Jesus. O “Tiago maior” não poderia ser o irmão de Jesus mencionado em Gálatas 1:19 porque ele morreu cedo, foi o primeiro apóstolo mártir da Igreja, e não estava vivo quando Paulo escreveu aquilo (At.12:2). O “Tiago menor” também não poderia ter sido o irmão de Jesus, porque ele era primo (anepsios) dele, e não irmão (adelphos), como diz Paulo (Gl.1:19)[1]. Logo, o irmão de Jesus era um terceiro Tiago, filho de José e Maria, legitimamente irmão de Jesus[2].
Vale ressaltar que o próprio evangelista João faz clara distinção entre os discípulos de Jesus e os irmãos dele, como sendo dois grupos diferentes, o que elimina a possibilidade de os irmãos de Jesus (ou “primos”, como querem os católicos assassinando a gramática grega) se tratarem da mesma coisa:
“Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes (...) Porque nem os seus irmãos criam nele” (João 7:3-5)
Percebe-se claramente que os irmãos de Jesus não são discípulos dele, mas outras pessoas, que nem ao menos criam nele (e os discípulos criam!). Isso bate frontalmente com a tese do padre Paulo, de que o Tiago teria que ser um dos doze discípulos. Deve ser por isso que ele concluiu dizendo:
“Isso é muito importante para nós, católicos: a nossa certeza a respeito da virgindade de Maria não deriva da Bíblia. Deriva da nossa fé e da tradição da Igreja”
É o que eu sempre digo: a Bíblia nunca pode converter alguém ao catolicismo, pois contraria vigorosamente as suas teses, por isso é melhor mesmo apelar para a “tradição”, mesmo sendo algo vago que nem os romanos nem os ortodoxos conseguem decidir qual deles tem a tradição certa, já que os romanos afirmam que os irmãos de Jesus eram seus primos e os ortodoxos declaram que eram filhos de José, e ambos apelam para a “tradição” para provar isso.
Portanto, seria mais honesto dizer que só creem por fé.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
Texto extraído do site Heresias Católicas.